domingo, 17 de abril de 2011

Acessibilidade



Como dependente de transporte coletivo, vejo a dificuldade dos cadeirantes à espera de ônibus acessível. Muitas vezes três ônibus passam e nenhum deles possui o elevador de cadeira de rodas. Todos os dias eu pego seis ônibus. Para chegar ao meu primeiro destino, pela manhã, devo pegar sempre às 6h50, chego ao terminal de Florianópolis às 7h20, e três minutos depois, em outra plataforma, sai o outro ônibus que me leva para o lugar desejado. Se eu perco o das 6h50 só passará outro depois de 15 minutos, porém chegando ao terminal vou ter que pegar outro ônibus, em outro horário, não chegando ao meu destino na hora certa. Imagina um cadeirante. Este, já dependente de suas duas rodas, deve estar sempre à espera no ponto de ônibus no horário especificado pela empresa de transporte coletivo. Caso se atrase um minuto pode ser fatal, podendo perder um dia de trabalho, ou de aula, pois aquele ônibus especial só passa naquele horário.


Dentro do ônibus, outra dificuldade. Nos horários de pico, os transportes coletivos vêm abarrotados, passageiros se segurando como podem nos bancos e ferros de sustentação do ônibus. Ao parar em um ponto, os passageiros olham com desprezo aquele indivíduo de cadeira de rodas que quer pegar o mesmo transporte. Durante cerca de 15 minutos, abre-se espaço entre os passageiros, que olham agoniados nos seus relógios, o cobrador desce do ônibus e auxilia o cadeirante, que muitas vezes está sozinho. Desce elevador, sobe elevador, e os passageiros olham em seus relógios. O cobrador prende em uma espécie de cinto de segurança deficiente junto a sua cadeira, e encaixa um ferro entre uma roda e outra para que esta não rode. E pronto.

Eu estou sempre preocupada com horário. Todo segundo é precioso, e sempre fui muito egoísta em relação ao ônibus. Ficava desesperada quando via um cadeirante no ponto, e rezava para que ele não desse sinal. Mas sempre tive empatia por eles, imagino o quão difícil deve ser. Se para mim, que tenho duas pernas perfeitas, já há dificuldade de chegar ao destino no horário certo, imagina alguém que além de depender do transporte coletivo, ainda depende das duas rodas.

Outros meios

No caso dos portadores de carros especiais, ocorre a dificuldade de encontrar uma vaga de estacionamento adequada para deficientes. O centro de Florianópolis é um dos locais com menos áreas acessíveis para cadeirantes, desde calçadas para mobilidade independente, até estacionamentos da Zona Azul, que ficam dispostas nas ruas do Centro.

Particularmente eu tenho pavor em pensar em ir de carro para o Centro por isso. Não sou cadeirante e já tenho dificuldade de encontrar uma vaga para estacionar na Zona Azul. Os estacionamentos pagos custam no mínimo R$ 10,00 por dia. Quando encontro uma vaga observo que se fosse cadeirante jamais conseguiria descer do carro sozinha. Ou por estar em subidas/descidas, ou por encontrar um meio fio muito alto, ou ainda por ficar próximo de árvores ou postes.

Em estacionamentos fechados, como por exemplo, de Shoppings, quem não tem deficiência utiliza a desculpa da pressa e da falta de outro local, e estaciona em vagas especiais. Isto eu sempre observei.

Uma simples rampa faz toda a diferença na vida de um cadeirante. Existem muitos deficientes físicos na Grande Florianópolis e eles têm a mesma capacidade que nós, e uma simples mudança, como por exemplo uma rampa em lugar adequado, pode facilitar em até 100% a vida deles. A acessibilidade ainda não é vista como Lei, e muitos nem sabem o que significa. Para quem não usa cadeira de rodas, muleta, não é deficiente visual, ou ainda não tem qualquer outra dificuldade de locomoção, as faltas de planejamento urbano passam despercebidas.

E que se fez e o que se faz

Urbanistas e engenheiros civis têm obrigação de inserir em seus projetos a adequação dos ambientes internos e externos. Muitos “esquecem”. Obras, como de calçadas, por exemplo, passam a ser feitas por “peões de obra” que não recebem orientação adequada. Outro caso comum de falta de divulgação da acessibilidade é a dificuldade de lidar com esses portadores. Um exemplo são os taxistas, que não sabem nem fechar uma cadeira de rodas.

Em novembro de 2009, na Assembléia Legislativa, em Florianópolis, foi realizado o 5º Seminário Nacional de Acessibilidade, em com tema: “O que temos feito na prática?”, mostrando que os próprios realizadores do evento sabem que ainda não fizeram nada em relação ao assunto. O evento busca parcerias, estratégias e implementação de políticas públicas e ações concretas, visando a acessibilidade total, e uma cartilha pedagógica e educacional com normas legais, foi distribuída com o objetivo de aprendizado sobre o tema, e que obras comecem a ser planejadas visando a igualdade. Até hoje, não vi grandes mudanças feitas por estes órgãos. Na verdade a moda agora é a construção de elevados, que vão de nada a lugar nenhum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário