segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nua e crua

Dois homossexuais e uma mulher despudorada. Este quase foi o desfecho do Big Brother Brasil 11, febre que tomou conta dos brasileiros, principalmente aqueles que não assinam TV a cabo, não gostam de ler ou ir dormir cedo. Sei que o assunto não é tão factual, mais nesse século maluco em que até a comida é instantânea, acredito vale à pena voltar a discutir assuntos como este.  

Como explicar um reality show, em que é a grande massa quem escolhe seu desfecho, termine com personagens tão criticados pela sociedade puritana constituída há séculos atrás? Eu, como simpatizante das causas homossexuais e nada simpatizante do falso pudor, percebo, através de programas como este, que a nossa sociedade vem lutando contra a estereotipagem da massa, onde não importa o que você parece ser ou qual é seu círculo de amizade, e sim quem você é.





Somos educados desde a infância a diferenciar o certo do errado, e muitos de nós acaba criando uma casca emocional, em que mesmo chegando a certa idade e mesmo conseguindo enxergar o quão errada está essa divisão, desse dito “certo e errado”, muitas vezes não conseguimos nos livrar de raízes preconceituosas, aquelas que vêm lá de trás, mas bem mais de trás do que se imagina. Alguns vão culpar suas famílias, outros vão se culpar, ou ainda, outros se quer vão querer “tentar” entender.
Primeiro que não há certo ou errado, essa divisão foi feita com o passar dos anos por pessoas conservadoras que estavam no poder. Também não podemos dizer que é errado colocar regras, pois uma vida em sociedade depende delas. Até mesmo os animais, ditos “irracionais”, têm regras. Porque nós não teríamos? Porém, a partir destas, resolveu-se organizar a vida em sociedade distribuindo papéis para cada grupo de indivíduos. Falo aqui das funções sociais. 
“Parece que, por muito tempo, teríamos suportado um regime vitoriano e a ele nos sujeitaríamos ainda hoje. A pudicícia imperial figuraria no brasão da nossa sexualidade contida, muda, hipócrita.” Este trecho, retirado da obra “História da Sexualidade I”, de Michel Foucault, retrata o de onde incorporam o ilícito nas relações e nos comportamentos que não configurassem o sistema estabelecido. As regras tinham razões para serem impostas, e estas sim deveriam ser consideradas ilícitas.
O sentimento passaria a não importar mais, o desejo carnal passaria a ser coisa de amantes e o casamento seria realizado apenas pela conveniência, entre ambas as famílias (e é claro, entre sexos opostos, pois o sexo era só permitido para reprodução. E detalhe: a mulher não poderia sentir e nem o homem poderia mostrar-lhe sensações). 
Estamos falando de um regime adotado no século XVII, claro que muitas dessas regras foram quebradas ao longo dos anos, mas como diz Foucault em seu livro, ficaríamos presos a certas convenções até hoje, ocasionando preconceitos, o falso moralismo, sofrimentos de homossexuais que muitas vezes nem querem se entender, dos seus pais, dos relacionamentos convenientes. E aqui cabe falar das ditas “Marias” que são vistas como despudoradas, no mais leve dos comentários, pelo fato de não se aterem ao sistema machista, de não se preocupar com o que os outros vão pensar e dar uma “banana” aos viciados no voyeurismo. A nossa personagem Maria foi autentica e assim acabou conquistando a grande maioria. É disso que precisamos. Da força de pessoas que se mostram sem medo, como os personagens Daniel e a Diana, homossexuais assumidos e felizes, que como Maria, também não se anularam. O Wesley,  vejo como um equilíbrio, ainda obrigatório. Ele mostrou que homens de verdade, pessoas do bem de verdade, agem como ele: amam, sem medo do que os outros vão pensar, e não têm preconceito.
Tudo isso para falar do BBB 11? Sim. Nossa sociedade ainda é muito hipócrita, ainda escutamos histórias bizarras daqueles que com as próprias mãos destroem vidas em “respeito” ao que acredita ser o certo... Ainda fazemos brincadeiras a respeito dos diversos preconceitos. Nossa base ainda é de pré-conceitos, daqueles que separam grupos, amores, futuros. Mas, podemos ficar felizes, pois são com passos lentos, mas a nossa sociedade está indo pelo caminho certo em relação às relações interpessoais. Há salvação. Vai existir um dia em que todos vão dar as mãos. Eu estarei lá. E você?

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