domingo, 10 de abril de 2011

O Monstro

“Wellington, de 23 anos, entrou em uma escola municipal nesta manhã, atirou contra alunos em salas de aula lotadas, foi atingido por um policial e se suicidou. O crime foi por volta das 8h30.” Este trecho, retirado de uma matéria que descreveria todo o massacre ocorrido em Realengo (RJ), mostra uma realidade diferente da que conhecemos no Brasil, mas que é muito conhecida em países onde as crianças já não têm mais emoções e expectativas com o futuro.
No Brasil, é comum ver adolescentes pobres que se corrompem, se marginalizando em busca de sonhos materiais. Mas, acredito que não podemos condená-los, uma vez que, as mídias sociais, principalmente a TV que é de livre e diário acesso na casa de praticamente todos os brasileiros, vende sonhos muitas vezes surreais. Comum, também, são os adolescentes de classe média alta, que têm tudo. Daqueles que nem chegam a desejar e já vêem na sua frente. São crianças sem emoções. E que só vão conquistar emoções em coisas ilícitas. 
Estes jovens brasileiros quase sempre se apresentaram assim. Mas, difícil é encontrar casos em que tenham cometido atos de vingança à sociedade. Atos pensados, estudados e executados na maior frieza. Aqui, tudo é resolvido no calor da emoção. Na raiva, na hora em que está sobre efeito de drogas, nos momentos de desespero.





Pode-se dizer que o ser humano é o único animal que sabe que vai morrer. E isto é um peso enorme a se carregar nas costas, sendo que você tem um tempo para realizar seus sonhos e seus deveres. E nem sabe quanto. Porque dizer isso? Simples. O fato de sentir-se pressionado pela sociedade ou por sentir-se excluído dela, faz com que esses fracos se desequilibrem de vez e desistam de seguir sua vida pelos meios convencionados, pré-estabelecidos. 
No país com mais regras e mais convenções de uma vida perfeita, tomando o nosso de referência, o Estados Unidos da América (EUA) é um exemplo de país que inicia seu trabalho de incorporação já na infância. Como se fosse uma fábrica de produtos idênticos, produzidos em série, a escola dá o primeiro empurrão para a introdução dos seres ditos “corretos” para viverem nesse espaço. E será a toa que lá o número de vinganças para com a sociedade é maior?  Será que não há justificativa para o EUA estar sempre nas mídias com os casos de jovens homicidas e suicidas? Porque há tantos jovens que passam meses planejando uma morte “espetacular”?
Estes jovens parecem querer a atenção de todos aqueles que pouco se importaram com ele, a atenção da sociedade que o excluiu por não ter ou não conseguir ser aquele sujeito estereotipado como correto. E esse foi o caso do brasileiro Wellington. Caso que não deve ser repetido, que não podemos deixar virar “normal” em nosso país. Esta história não pode ser tratada como normal. A mídia não deve mais focar nas vítimas de Wellington, mas sim em todos os Wellingtons, todos aqueles que podem vir a cometer o mesmo erro, a mesma atrocidade, pensando ser o único jeito de serem vistos. 
Wellington fez sem sentir culpa alguma, ou remorso que seja. Como pode? Será que estamos cobrando demais das nossas crianças ou não estamos dando o suporte correto para aqueles que não sabem como lidar com a indiferença e a falta de expectativa?
Como em uma família, no Estado também há um responsável por sua organização, por sua estabilidade, e assim este acaba tendo o dever de planejar e oferecer um espaço onde todos tenham espaço e assistência. Mas, infelizmente, não é bem assim que acontece. No caso de Wellington, por exemplo, não houve assistência alguma ao cidadão que mais precisava. Podemos assumir que é de um cinismo macabro a abordagem do governo em “tentar” arrumar a história de acordo com que lhe é favorável, onde se encontra o herói: policial que salvou os demais alunos de um desastre ainda maior, as vítimas: que aqui prefiro colocar crianças, mesmo que o assassino tenha escolhido “meninas bonitas”, e o monstro: Wellington. E pronto. A história é assim. E desde sempre, de quem que devemos ter medo? Dos monstros. Certo? Claro, história perfeita. Mas aí, isso vira uma bola de neve, onde nunca haverá, junto à sociedade, uma compreensão, um entendimento, nunca será ensinado à grande massa a se fazer perguntar “Por quê?”, pois isso meus queridos, o governo não quer. Simplesmente porque a base da sociedade quem cria são eles.

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