terça-feira, 24 de maio de 2011

Corra Lola, corra!

O mundo parece que se converteu num mundo a imagem e semelhança do mercado. Tudo parece que se transformou em mercadoria, além das coisas, as pessoas, os corpos, as crianças, os adolescentes... Tudo. Parece que nada foi poupado. Parece que a lógica que anima cada indivíduo é a competição, a concorrência, a luta pela acumulação e pelo lucro, e parece que as nossas vidas passaram a gravitar em torno disso, comprimidas pelo fenômeno que é também da globalização: a compressão de espaço temporal. A frase do nosso tempo é: eu não tenho tempo. De tão envolvidos que estamos em micro atividades, buscando um lugar ao sol, um lugar no mundo e sucesso. 


As bibliotecas estão cheias de livros de auto-ajuda, todos ensinando a maximinizar o sucesso no mínimo tempo. Isso é eficientismo, relação custo benefício. Uma cultura com um individualismo possessivo, onde há um esvaziamento do espaço público para um recolhimento ao espaço privado. Essa cultura individualista é também uma cultura amedrontada, uma cultura recuada, com medo daquilo que ela vê como sendo criminalidade, que é a maior ameaça do nosso tempo. A política se faz como política espetáculo, o Estado não consegue oferecer soluções, porque o espaço político está morto, o Estado começa a criar leis, ou seja, respostas simbólicas para gerar ilusão de que os conflitos estão sendo resolvidos. 

Todos correm contra o tempo, correm atrás de melhores oportunidades, muitas vezes passam por cima de outras pessoas, da ética, da sua própria base familiar. E as empresas também não dão folga, querem empregados multifuncionais, que além de saber fazer tudo tem que saber fazer tudo na mesma hora. Você acaba aprendendo a ser o famoso “bombril”, mas sempre tem uma outra pessoa que sabe fazer tudo o que você faz e uma coisinha a mais, e aí que você percebe que não pode parar. Especialização, treinamentos, palestras, viagens, línguas... Você tem que aprender tudo, saber falar sobre tudo, escrever bem, falar bem, correr bem. Correr atrás do tempo.

Eu me sinto que como se estivesse sempre atrasada para pegar um trem, como se a qualquer momento eu pudesse perder uma chance, como se todos estivessem me testando. E isso é a paranóia do nosso tempo. Esse tempo de correria. Corremos atrás de tranqüilidade? É isso? E onde ela está?

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